Há palavras das quais eu gosto muito, seja porque as considero belas (pela sonoridade, pela raiz etimológica), seja porque traduzem valores com os quais me identifico e que, portanto, dizem respeito à minha maneira de ver o mundo e de me encantar com a vida. Gosto, por exemplo, das palavras "concórdia", "fraternidade", "lealdade", "silêncio", "estrela", "sinfonia", "horizonte", "poesia", "pão", "paz", prece", "canção", "utopia". E tenho especial predileção pela palavra liberdade. Só a perspectiva de não poder usá-la me dá calafrios, quase me sufoca.
Por isso, não gosto de ditadores, de tiranos, de pessoas autoritárias. Não gosto de prepotência e de donos da verdade. Não gosto do culto à personalidade. Não gosto de quem suprime o direito de livre manifestação do pensamento e a livre circulação de ideias. Seja em nome de que causas forem (político-ideológicas, religiosas, econômicas). Nada justifica o autoritarismo que deforma caracteres, que limita horizontes, que amordaça a palavra, que sufoca o sonho, que vilipendia a esperança.
E, desgraçadamente, parece que os ditadores tendem a ter vida longa, de tal maneira que, às vezes, submetem mais de uma geração inteira ao tacão do próprio arbítrio. E pouco importa que tais criaturas eventualmente alcancem benefícios sociais aos seus povos. Na maior parte dos casos, tais benefícios não valem o gosto de uma hora plena da liberdade arrancada à força. Isso cabe para opressores de todos os calibres e de todos os matizes ideológicos, do nosso Getúlio Vargas (do Estado Novo) - passando por Stálin, Hitler, Reza Pahlevi, Franco, Salazar, Stroessner, Idi Amim Dada, Fulgencio Batista e Papa Doc - a Fidel Castro, cujos eventuais acertos sócio-econômicos serão sempre toldados pela mácula fundamental da ausência de liberdade. De que valem alguns parcos benefícios materiais e alguns bons índices de desenvolvimento humano, se não se permite um arremedo de oposição, com possibilidade mínima de se fazer ouvir e de alterar rumos, como ocorre no Estado de Direito.
Em Cuba - peguemos um exemplo próximo - sabe-se, o acesso à saúde e à educação é universalizado, o esporte é política de Estado e todos têm direito a uma (miserável) cesta básica. Isso é bom? Sim, é ótimo. Mas é suficiente para apagar a grosseira falta de liberdade? Para justificar o arbítrio do partido único? Para redimir a voz que se sobrepõe a todas as demais, e prevalece, sem possibilidade de contestações? Você trocaria sua liberdade por essa bagatela? Agônicos sonhos românticos e caducas utopias à parte, a vida e a dignidade de um ser humano devem ser balizadas por esse tipo de expectativa?
Este texto, como outros eventualmente aqui publicados, é antigo e só o estou utilizando, porque, para algumas pessoas, as lições da História parecem não fazer a menor diferença. Continuam fascinadas por ditadores, por fardas, por mãos de ferro. Padecem de uma incurável patologia, que as põe de joelhos ao mínimo sinal de que alguém se arvora candidato ao exercício do poder fora dos amplos padrões democráticos e dos estreitos limites do bom Direito. A campanha eleitoral, que oficialmente ainda não iniciou, é claro prenúncio dessa estranha e doentia compulsão.